terça-feira, 23 de novembro de 2010


Boa noite pra quem é de boa noite, e benção para quem é de benção..!!!!

Irmãos na Fé novamente através do meu menino venho contar um “causo pro ceis tudo”.

Uns dia atrás fui visitar João, um negro velho que mora “la pras banda do Norte perto da Cachoeira”, sempre vou falar com Seu João, nego sábio, me ensina muito, e faz uma xícara de café igual a ninguém, e vamos falar a verdade uma boa prosa com um bom café ninguém resiste “né”?

Tava um dia maravilhoso, andando pelo caminho eu via os “passarinhu tudo” a cantar nos pés de figo, as laranjeiras marcavam o caminho daquela estrada de terra até a casa do Seu João, e uma brisa leve e fresca benzia meu rosto, folgando minha gravata e abanando o rosto com meu chapéu, vejo lá na frente uns “homi” trabalhando a brindo mais a estrada, logo se via que aquele pedaço “tava mesmo estreito, fazia bom modo um acerto no caminho”.

Chegando mais perto observei o encarregado bebendo água debaixo de uma figueira e “meia dúzia de homi”, de enxada na mão “batendo na terra com força, sem demora ao passar já fui “mangando deles tudo”.

Bom dia aos vida boa....!!!!

Bom dia Mestre Jangada, - responde o encarregado enquanto os outros olhavam de “rabo de olho”para mim e nem responderam.

Tirando um canivete do bolso e apanhando um figo “bem madurinhu”, dei uma boa gargalhada e continuei andando até a casa do Seu João.
Como de costume Seu João “tava sentadinhu”, com as calças enroladas até os joelhos, enfiando seu fumo de corda no velho cachimbo e com um largo sorriso Seu João se levanta e fala comigo:

- Salve Mestre Jangada, perdes a hora mas não o café. - e sorriso me dá aquele abraço “bem gostoso”.
-
Seu João apesar da idade, é um “nego bem forte”, seus abraços e apertos de mão as vezes de tanto carinho dói um pouquinho, e afastando de seu peito e segurando aquelas enormes mãos, sorrindo brinco com João.

- “Vô João, o nego ta ficando enxerido, até estrada nova pra visitá o veio nois vamu te, vou ser obrigado a vir mais tomá Seu Café, Nego Veio...!!!”

Mestre Jangada, aonde tu vistes estrada nova, por estas bandas só vem você, algumas crianças, vivo aqui em companhia dos passarinho e dos Índios, e que eu sabia passarinho e Índio não precisa de estrada, quanto mais nova.

Sem entender relato meu encontro com os trabalhadores da estrada, e sorrindo Seu João me diz:

- Mestre Jangada, as vezes você parece um menino, inocente que da até dó, não tem ninguém lá fazendo ou melhorando a estrada não , o que tem lá são algumas pessoas perdidas, sem rumo, sem saber o que fazer pobres espíritos que levaram muito tempo ainda para entender para que serve a vida, e o que Deus tem preparado para todos nós.


Continuando sem entender, e franzindo minha testa, sento num banquinho que estava na varanda da casa, e espero o que o “nego João” tem a dizer.

Sorrindo e com as mãos na cintura, Seu João sorri para mim e faz um pedido:

- Mestre Jangada, vem comigo, leva a moringa de café, acredito que esta visita irá te fazer muito bem!

Mais que depressa, peguei rápido a moringa e segui o “nego”, pois com certeza conversa com Seu João a gente “num pode perde”, quanto mais uma visita, e andando pela estrada chegamos até aonde estavam os trabalhadores, e mais que depressa todos pararam seus afazeres e sorrindo cumprimentaram seu João.
Seu João com a sua sabedoria olhou para mim e pediu somente com seu velho olhar que eu servisse o café aos trabalhadores,e com seu sorriso começou a prosear com as pessoas”.

- Como vocês estão, “calorzinho bom né gente? Um cafezinho para animar num vai fazer mau não é mesmo? – continuando a sorrir, ele abraça o mais jovem e pergunta – e você menino, forte deste jeito o que faz aqui?

Serio e de cabeça baixa o menino responde:

- Eu estou aqui Vó João, para oportunar a vida daquele encarregado, não agüento o jeito dele, minha vida toda vou importuná-lo, até me pagam mais ou menos aqui , mas não agüento ele não.

Continuando a sorrir Seu João se dirigi ao mais velho, fazendo a mesma pergunta, e sem pestanejar o Senhor responde:

- Eu gosto de vir aqui, as pessoas são boas comigo, e para falar a verdade não suporto mais meus filhos e minha esposa, quanto mais tempo eu ficar aqui melhor para mim.

Continuando a sorrir olha para mais um operário e continua a perguntar, sem “pestanejar” este olha bem nós olhos do Seu João e fala:

- “Nego”, eu velho aqui por que a empresa que da este trabalho para a gente é boa, da até orgulho trabalhar neste lugar, quando a gente conta para os outros trabalhadores das outras companhias por ai, todo mundo fica admirado que eu trabalho aqui, a gente se destaca né “nego”.

Já mais triste, depois de escutar aquilo ele vira para mais um, e continua, este coçando a cabeça e olhando para os pés de Seu João responde:

- Olha seu João, eu venho aqui por que estudei bastante, e as vezes o encarregado falta e eu tomo conta dos outros, isto me da um orgulho que o Senhor nem imagina.

Batendo nas costas deste ultimo e acenando para o encarregado que responde somente com um balançar de queixo, Seu João segura em meu pescoço e pega o rumo de sua casa, e voltando o “nego”começa a falar:

- Observou Mestre Jangada, nenhum deles esta realmente abrindo a estrada, apesar que o resultado seja uma estrada mais larga, o que eles estão fazendo e tentando resolver suas vidas da pior maneira possível, do encarregado aos operários esta faltando a união, esta que agrega e quando focada no mesmo resultado, ultrapassa qualquer barreira, o que irá acontecer ali é que a estrada irá ficar mais larga, mais nenhum operário saberá por que, pois ninguém esta ali para alargar nada e sim esta ali para tentar solucionar suas falências, tratando trabalho com um fardo pesado, difícil de carregar, logo massacrante para quem executa, na verdade Mestre Jangada, nenhum daqueles homens gosta do que faz, fazem o trabalho por que compraram a idéia que se tem que trabalhar para ser alguem, mas somente te digo uma coisa Mestre Jangada, nunca mais esqueça do que viste, e de coração, faça da sua vida o que você mais gosta, pois somente assim você irá se satisfazer, satisfazer quem lhe acompanha e com certeza nunca precisará trabalhar para se tornar um homem de respeito, pois respeito se dá a quem merece e conquista e não para quem se engana.

Olhando bem aos olhos daquele “nego”, beijo suas mão e retruco:

- Vó João, pode deixar que continuarei minha vida tentando fazer sempre tudo com amor, e nunca vou te esquecer por este dia viu, e mais uma coisa, desta vez o café “tava meio amargo”..!!!

Ficamos a noite inteira a “prosear” sobre a vida, e noutra oportunidade eu conto mais sobre as prosas com o Velho João, agora quero somente falar mais uma coisa:

- Alguém quer café?

Amor desejo a todos e reflito os auspícios dos divinos em suas vidas e Boa Noite para quem é de Boa Noite, e Benção para quem é de Benção.


JANGADA

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